Opositores pedem à Alemanha e Reino Unido que não recebam Netanyahu
15/03/2023
A coligação de Governo em Israel, que reúne partidos ultranacionalistas e ultraortodoxos, avançou com uma legislação que visa enfraquecer o Supremo Tribunal de Israel e dar ao Executivo o controlo sobre a nomeação dos juízes do país.
De acordo com o Governo liderado por Benjamin Netanyahu, esta é uma medida há muito esperada para conter o que considera uma influência exagerada de juízes não eleitos.
Mas os críticos realçam que este plano destruirá o frágil sistema judicial de Israel, ao concentrar o poder nas mãos de Netanyahu e da sua maioria parlamentar.
Também apontam que esta é uma tentativa de Netanyahu, que está a ser julgado por acusações de corrupção, de escapar à justiça.
Dezenas de milhares de israelitas saíram às ruas nos últimos dois meses para protestar contra esta ampla reforma e, na semana passada, os protestos foram tão grandes que Netanyahu foi forçado a utilizar um helicóptero até o aeroporto, para apanhar um voo para uma visita oficial a Itália.
Diversas figuras israelitas, como economistas vencedores do Prémio Nobel e importantes autoridades de segurança manifestaram-se contra a reforma, com reservistas militares a ameaçarem também parar de se apresentarem ao serviço.
Até mesmo alguns dos aliados mais próximos de Israel, incluindo os EUA, instaram Netanyahu a recuar na medida, enquanto o Presidente israelita, Isaac Herzog, tem instado o Governo a chegar a acordo com a oposição.
Numa carta endereçada aos embaixadores alemão e britânico em Israel, cerca de 1.000 figuras israelitas destacaram esta terça-feira que Israel está no meio da crise mais extrema da sua história e que Netanyahu está a tentar transformar o país numa “ditadura teocrática”.
“Em face da liderança perigosa e destrutiva de Netanyahu, e à luz de uma vasta resistência civil democrática contra a destruição das instituições estatais por legislações antidemocráticas, pedimos que a Alemanha e o Reino Unido anunciem rapidamente a Netanyahu que as suas visitas de Estado planeadas aos seus países foram canceladas”, destaca a missiva.
A carta está assinada, entre outros, pelo aclamado autor David Grossman, o romancista Dorit Rabinyan, o diretor de cinema nomeado para um Óscar Uri Barbash e dezenas de académicos, empresários e outros profissionais.
Netanyahu deve encontrar-se com o chanceler alemão Olaf Scholz esta quinta-feira em Berlim, onde israelitas já anunciaram que estão a organizar um grande protesto.
O líder do Governo israelita também tem prevista uma viagem ao Reino Unido nas próximas semanas.
O ex-primeiro-ministro israelita, Ehud Olmert, juntou-se ao coro de protestos esta terça-feira, ao defender que o primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, também deve recusar-se a encontrar com Netanyahu, devido à aliança do líder israelita com políticos de extrema-direita que, segundo este, toleraram ou até apoiaram a violência por colonos na Cisjordânia.
Netanyahu regressou ao poder em dezembro, após as quintas eleições do país em menos de quatro anos, liderando o Governo mais à direita nos 75 anos de história de Israel.
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